Amigos do Meio Ambiente e da Vida

Sem revolução, não há salvação: espiritismo, emergência climática e colapso socioambiental

Com Sinuê Neckel Miguel

Amigas e amigos espíritas ecologistas!

No último dia 11/09/2022, tivemos uma apresentação, ou poderíamos dizer, um grave alerta sobre a situação climática mundial, realizado por Sinuê Neckel Miguel, que  possui Bacharelado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2007), mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2012) e doutorado em Ciências Sociais pela mesma universidade (2017), tendo realizado estágio de doutorado “sanduíche” pelo acordo CAPES/COFECUB junto ao GTM, CRESPPA, Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis e Université Paris Nanterre. Vem atuando principalmente nos seguintes temas: espiritismo, política, socialismo, autogestão e Iugoslávia.

Fazendo pequena pausa nos estudos da obra “Espiritismo e Ecologia”, de André Trigueiro, o grupo de estudos e partilhas da AMAV – Amigos do Meio Ambiente e da Vida objetivou mostrar informações de caráter científico que desnudam a gravidade do momento ambiental na Terra, sem deixar de envolver/comprometer a doutrina espírita e seus adeptos, afinal de contas, a literatura espírita nos entrega muita informação sobre nossa responsabilidade em meio a todo este cenário.

As grandes extinções de seres vivos

Em cinco momentos da história do planeta, gigantescas extinções ocorreram, porém, de forma natural.

Mas está em andamento a sexta extinção em massa, o que é atestado por diversas fontes de credibilidade:

  • 1970-2016: queda de 68% das populações estudadas de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes selvagens (Relatório Planeta Vivo 2020 do WWF ).
  • Das 8 milhões de espécies de animais e plantas no planeta (das quais 5,5 milhões são de insetos), um milhão estão ameaçadas de extinção, muitas das quais podem se efetivar já nas próximas décadas (IPBES).
  • Entre aves, mamíferos e anfíbios as espécies ameaçadas de extinção variam de 20% a 43%.
  • Taxa de extinção observada após 1900:
    • Aves (132 espécies por milhão/ano)
    • Mamíferos (183 espécies por milhão/ano)
    • Anfíbios (587 espécies por milhão/ano)

Detalhe crítico: a taxa de extinção natural é de míseros 0,1 espécies por ano por milhão de espécies. Estamos “anos-luz” acima desta taxa. E a digital é humana!

Se todas as espécies hoje ameaçadas forem extintas em 100 anos e a taxa de extinção permanecer constante, o limiar de 75% será atingido em apenas 240 a 540 anos para todos os grupos de vertebrados (exceto répteis). Ou seja, um triste ponto de não-retorno.

Quais os motivos de tamanha crise na maravilhosa biodiversidade da Terra?

  • Mudança de uso do solo
  • Superexploração de espécies
  • Espécies invasoras e doenças
  • Poluição
  • Mudança climática

Os números demonstram que o agro nem sempre é “POP”. A participação da agropecuária nos chamados “antromas” é avassaladora e bem demonstra os motivos para a degradação que se vê. Mas o que são antromas?

  • São biomas antropogênicos, resultantes da interação direta e sustentada do homem com os ecossistemas incluindo agricultura, urbanização, silvicultura e outros usos da terra. [1] Os antromas remetem diretamente ao que se chama antropoceno: época geológica atual, no qual a espécie humana tem um impacto central na geologia e ecologia do planeta.

Por conta da pegada humana, ávida por conforto, consumo desorientado e, sobretudo, lucros, que movimentam as máquinas poderosas da economia, está em pleno andamento a “Grande Aceleração”, uma exponencial elevação em dezenas de fatores que formam o núcleo do vindouro colapso (caso não façamos algo revolucionário e urgente).

Estes fatores são, por exemplo, uso da água, produção de papel, veículos motorizados, emissões de poluentes e diversos outros, como aponta o gráfico:

Trazendo para o bom português, o antropoceno acontece diariamente sob nossos olhos, por conta de inúmeras causas, bem demonstradas abaixo:

Um dos maiores rastros de poluição antropocênica é a emissão de CO² na atmosfera!

A concentração de CO2 na atmosfera ficou abaixo de 280 partes por milhão (ppm) durante todo o Holoceno (últimos 12 mil anos). Mas após a grande arrancada do crescimento demoeconômico global propiciado pela Revolução Industrial e Energética – que iniciou a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento das florestas em larga escala – a concentração de CO2 chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 317 ppm em março de 1960 e pulou para 417 ppm em maio de 2020, conforme mostra a curva de Keeling do gráfico abaixo.

Trata-se de níveis alarmantes, em relação aos quais boa parte da humanidade ainda permanece indiferente.

Mas felizmente, o despertar para esta realidade não deixa de acontecer, ainda que sob a pressão da dor e do sofrimento impostos há milhões, quiçá bilhões de almas.

A ciência credível não se cansa de emitir alertas. Até a nomenclatura da crise tem sido alterada, para dar conta da gravidade e urgência da situação: começou com aquecimento global, depois foi nomeada como mudanças climáticas, passando para emergência climática, até chegar à culminância de crise climática.

Esta crise está cristalina nos noticiários, com frequência cada vez maior, com recordes negativos sendo quebrados com rapidez alucinante:

Os oceanos, verdadeiras usinas de vida, podem aumentar seus níveis em até um metro até o ano 2100, o que seria catastrófico demograficamente, pois grandes populações vivem em regiões costeiras. Boa parte delas, em países pobres.

E já que falamos de um elemento fundamental, sigamos na água. Atualmente, largas regiões pelo mundo se encontram em diferentes graduações de seca.

O ecossistema planetário funciona como equilibrada sequência de eventos.

Sem água, como manter a produção de alimentos?

Ao ultrapassarmos 3 graus as perdas estimadas em culturas como trigo, milho, arroz e soja são de cerca de 30%. Com um aumento maior, as perdas podem ultrapassar 50%. Existe um alto risco de quebras de safra simultâneas.

A crise climática produz ondas de calor cada vez mais fortes

Atualmente 1% do mundo está no limite da habitabilidade. Parece pouco, mas não é! Projeções indicam que em 2070, a prosseguirem as condições atuais, cerca de 19% do planeta ficará inabitável.

Países ricos talvez tenham condições de lidar com isso, mas e aqueles países com graves condições sociais e econômicas?

Quadros como este contribuem para o fenômeno das migrações climáticas:

Até 2050 são estimados entre 200 milhões e 1 bilhão de refugiados climáticos.

A cada grau de aumento da temperatura média global cerca de 1 bilhão de pessoas devem se ver forçadas a migrar devido à inabitabilidade de seu território.

Isto por sua vez, eleva o risco de conflitos armados, num ciclo perverso para um planeta que estaria no limiar da transição rumo à regeneração.

Nosso amigo Sinuê Miguel trouxe um conceito importante: feedbacks climáticos. A deterioração ambiental do planeta provoca alterações deletérias, que por sua vez, retroalimentam a degradação, potencializando os problemas e os danos.

Quanto menos gelo e efeito “albedo” (a reflexão de luz e calor para o espaço), mais se alimenta as causas para o degelo.

Quanto menos florestas e mais solos vulneráveis, mais desequilíbrio entre captação e emissão de gases do efeito estufa e mais danos ao regime hídrico.

Quanto mais o permafrost derreta (camada congelada sob a terra, nas latitudes mais altas), mais metano poderá ser liberado para a atmosfera, acelerando o quadro da dor ambiental.

Outro conceito fundamental, é o “tipping point”, ou seja, regiões do mundo onde a situação é dramática a ponto de não haver mais como resolver o desequilíbrio.

A questão da geração de energia suficiente à movimentação das rodas da economia e da indústria é crucial. Muito se fala sobre transição da matriz energética, mas ainda muito pouco caminhamos.

Exemplo de muito “blá, blá, blá”, como costuma falar a ativista Greta Thunberg, são os acordos climáticos realizados desde meados da década de 1980.

Muito além do sistema financeiro e de produção atuais, existe um fator que parece nos empurrar em direção ao abismo: a indiferença:

Seria cômico… se não fosse trágico, e esta tragédia exige de cada um de nós, movimentação imediata rumo à uma profunda revolução, que sacuda e reinicialize os padrões de vida na Terra:

O Cristo em pessoa nos apresentou o primeiro artigo do que seria a “constituição planetária” perfeita: fazer ao próximo aquilo que gostaríamos que fosse feito conosco.

Quem é o “próximo”??

Toda a espécie humana, sejam conhecidos nossos ou não vizinhos próximos ou habitantes do outro lado do mundo.

Todo o reino vegetal e sua deslumbrante beleza e importância.

Todo o reino animal, afinal de contas, nós, espíritas, sabemos de cor que já viajamos por estes reinos, em nosso processo evolutivo. E se já os percorremos, porque não propiciar aos seus habitantes, hoje, imediatamente, as mesmas condições de vida que desejamos para nossa própria espécie?

A mensagem da noite de hoje é grave, densa, apocalíptica. Mas ainda podemos mudar isso.

Até a próxima, amigos e amigas!

Fonte:

Limites Planetários, Colapso Ecológico e Antropoceno:

[1] – Site: https://geologiamarinha.blogspot.com/2009/10/antromas.html

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