Amigos do Meio Ambiente e da Vida

Espíritas (ou não) e o consumo consciente

Originalmente publicado em 14 de novembro de 2022

Amigas e amigos espíritas ecologistas!

No último dia 08 de novembro, tivemos nosso penúltimo encontro deste ano!

Mais um capítulo do livro de André Trigueiro, “Espiritismo e Ecologia”, foi estudado e debatido: consumo consciente.

Começamos a noite com uma sugestão de documentário que trata sobre o minimalismo, um costume ou comportamento que faz frente ao modelo atual de consumo (ou consumismo). Esse documentário fala sobre o estilo de vida minimalista e a forma como as pessoas podem ser livres quando se desapegam de seus bens materiais, utilizando apenas o que realmente importa. Disponível na Netflix ou no Youtube [1]. Esse documentário fala sobre o estilo de vida minimalista e a forma como as pessoas podem ser livres quando se desapegam de seus bens materiais, utilizando apenas o que realmente importa.

Falar de consumo e não falar de resíduos, é impossível.

Grandes iniciativas rolam pelo mundo, apontando para nossa indiferença em relação aos resíduos de nosso consumo. “The Trash Cycle”: biólogo alemão fez uma “Volta a Portugal” em bicicleta para recolher lixo que colocamos no lugar errado. Dois mil quilômetros. Dois meses. Uma bicicleta feita de partes velhas. Mais de 3900 garrafas de plástico recolhidas. Andreas Noe, conhecido como Trash Traveler, foi o autor da proeza. Saiba mais, clicando no link ao final deste texto. [2]

Qual a diferença entre consumo e consumismo?? Trigueiro comenta:

“O consumo contribui claramente para o desenvolvimento humano quando aumenta as suas capacidades, sem afetar adversamente o bem-estar coletivo, quando é tão favorável para as gerações futuras como para as presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planeta e quando encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas”.

“Já o consumismo remete ao excesso, ao exagero, ao desperdício dos recursos. Toda vez que excedemos o consumo do que nos é necessário — e à medida que isso se torna algo cultural, incorporado à rotina, sem nenhuma noção dos impactos causados — geramos algum tipo de desequilíbrio de ordem material ou moral”.

“Ecologia e Espiritismo denunciam, cada qual à sua maneira, as mazelas causadas pelo consumismo tanto para a humanidade quanto para o planeta” – André Trigueiro.

BOAS IDEIAS ACONTECEM PELO MUNDO, COMO OPÇÕES AO CONSUMISMO DESEQUILIBRADO

AMSTERDAM É A 1ª CIDADE DO MUNDO A ADOTAR A ECONOMIA DONUT (ou economia circular)

Entenda o modelo Donut

No anel interno da Economia Donut estão os conceitos do mínimo necessário para que tenhamos uma boa vida. Esta ideia está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e envolve desde alimentos e água potável até níveis satisfatórios de habitação, educação, saúde, equidade de gêneros, saneamento, energia, renda e participação política.

As pessoas que não têm o mínimo necessário para viver bem, dentro destes critérios, estão vivendo no buraco central da rosca, segundo o modelo proposto por Kate Raworth.

O anel externo do gráfico, representa os limites ecológicos, estabelecidos por cientistas e pesquisadores. Ele destaca as fronteiras que a humanidade precisa respeitar para evitar mudanças climáticas, garantir a conservação dos solos e dos oceanos, da camada de ozônio, da biodiversidade e acesso à água potável. [3]

Querem outra boa nova?

ORIENTAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA BRITÂNICA SOBRE CONSUMO DE CARNE

O clero do Reino Unido orienta aos católicos, para que se abstenham de comer carne, todas as sextas-feiras. É um começo, ainda tímido, mas importante. Se todos os fiéis britânicos seguirem a diretriz, deixará de ser emitido o equivalente aos gases dos motores de barcos transatlânticos que façam 82 mil viagens! [4]

O consumismo acarreta uma série perigosa de consequências, em várias esferas de nossa vida, e que atingem em cheio a saúde em todos seus aspectos:

Mas um dos maiores e mais devastadores prejuízos trazidos por comportamentos consumistas desenfreados, são aqueles de ordem moral:

SUA EXCELÊNCIA, O “MERCADO”, E SEU LEAL SÚDITO, O MARKETING

Trigueiro apresenta em seu livro importantes provocações à nossa resistência ao canto de sereia da publicidade moderna:

“Segundo o historiador Fernando Braudel, a Revolução Industrial teria, na verdade, alterado drasticamente a demanda, constituindo-se numa “transformação de desejos”.

“Surge aí a chamada sociedade de consumo, na qual a figura do consumidor é aquela que detém o poder de realizar desejos, “sonhos de consumo” tão efêmeros e descartáveis quanto uma bolha de sabão”.

O CICLO “INFINITO” DE DESEJOS DE CONSUMO.

“Schopenhauer (contemporâneo de Kardec e de Haeckel) denunciou o sofrimento inerente a esse estado de desejo latente que atormenta a humanidade: […] as exigências se prolongam ao infinito; a satisfação é curta e de medida escassa. O contentamento finito, inclusive, é somente aparente: o desejo satisfeito imediatamente dá lugar a outro; aquele já é uma ilusão conhecida, este ainda não. Satisfação duradoura e permanente objeto algum do querer pode fornecer; é como uma caridade oferecida ao mendigo, a lhe garantir a vida hoje e prolongar sua miséria ao amanhã”. [5]

“A publicidade não inventou o desejo de consumir muito além do necessário, mas sofisticou exponencialmente os meios de se despertar novos e vorazes apetites de consumo. A massificação dos desejos por meio da publicidade gera problemas ainda pouco conhecidos ou discutidos na sociedade moderna”.

Publicitários desempenham função estratégica de despertar novos desejos a cada campanha, usando diferentes mídias para alcançar o mesmo objetivo: vender um novo produto ou serviço para determinado público-alvo. Recorre-se a pelo menos três poderosas ferramentas para isso: sons, imagens e arquétipos. Sons são vibrações que se desdobram em determinada frequência, assim como nós. Quando tocam a “sua” música no comercial, ou um ritmo com o qual você tem afinidade, há um encontro de vibrações, estabelece-se a sintonia, abrimos a porta para que a mensagem publicitária entre sem pedir licença. Se há imagem e som, a ofensiva é ainda mais eficiente.

OS ARQUÉTIPOS: MANIPULÁVEIS PARA O BEM E PARA AS COMPRAS SEM FREIO…

ARQUÉTIPOS!! Jung criou esta expressão para designar as “imagens primordiais” que corresponderiam simbolicamente a algumas situações que experimentamos conscientemente. Quando se busca no inconsciente coletivo imagens mitológicas ou situações que remetem a expectativas comuns a todos nós, como, por exemplo, a de encontrar o “par perfeito” (a alma gêmea) para compor uma campanha publicitária, isso ganha uma força incomum.

O coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência (NETCCON) da Escola de Comunicação da UFRJ, Evandro Ouriques, que também é terapeuta de base analítica, chama, de forma bem-humorada, a publicidade de “magia negra”, quando se manipulam sons, imagens e arquétipos para alcançar objetivos menos nobres.

Repensar profunda e urgentemente nossos hábitos de consumo: um imperativo de ordem ético, moral, espiritual e ambiental, pois do contrário, a Terra seguirá caminhando rapidamente rumo ao novo patamar de regeneração, mas com seu meio ambiente degradado e com seus habitantes, de todas as espécies, em franco sofrimento. Temos pouco tempo!

Até a próxima, amigos e amigas!

Fontes:

[1] Link: www.youtube.com/watch?v=gBaXUU8c-Mk

[2] Link: https://expresso.pt/sociedade/2022-06-09-The-Trash-Cycle-biologo-alemao-esta-a-fazer-Volta-a-Portugal-em-bicicleta-para-recolher-lixo-3c549559

[3] Link: https://ciclovivo.com.br/planeta/desenvolvimento/amsterdam-e-a-1a-cidade-do-mundo-a-adotar-economia-donut/?fbclid=IwAR0WaZf9ff4b6dJR8QZIyIuYPkSLr3J0ya53jMf3dEwdED3jIZciH05O2lshttps://ciclovivo.com.br/planeta/desenvolvimento/amsterdam-e-a-1a-cidade-do-mundo-a-adotar-economia-donut/?fbclid=IwAR0WaZf9ff4b6dJR8QZIyIuYPkSLr3J0ya53jMf3dEwdED3jIZciH05O2ls

[4] Link para o podcast da BBC (em inglês). A partir de 24’15”:

[5] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação — fragmento. Filosofia Ciência & Vida, São Paulo, n. 33, p. 53, 2009.

1 comentário

  • Patricia Valente

    A grande questão, como o Trigueiro aponta, é o equilíbrio entre consumo e consumismo. Precisamos consumir, tanto para nossa própria sobrevivência quanto para fomentar nosso modelo econômico atual, gerando empregos. Parar totalmente o consumo seria parar a economia e isso seria catastrófico, ao menos até que a humanidade consiga implementar um modelo econômico sustentável e aceito por todos. Por outro lado, o consumismo acarreta uma série de problemas, tanto ambientais, com a produção massiva de resíduos que poderiam ser evitados, quanto pessoais. O consumismo traz desde doenças físicas até doenças mentais e as doenças são um sinal de que algo está fora dos planos divinos. Por fim, outro problema ligado a isso é a figura do tio Patinhas, aquela pessoa que trabalha para juntar dinheiro, mas o dinheiro em si é a finalidade da vida dela. Estamos encarnados nessa existência para trabalhar, sim, para adquirir dinheiro, sim, mas não para vivermos em função dele ou para guardarmos ele em um cofre no banco. Se ganhamos muito dinheiro com o que fazemos, é porque somos a ferramenta divina para distribuir esse dinheiro entre todas as pessoas. E isso é feito, também, através do consumo. As palavras-chave são equilíbrio e consumo consciente.

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