O homem não entendeu bem isso…
Amigas e amigos espíritas ecologistas!
Para quem perdeu a partilha mútua de conhecimentos do último dia 16/08/2022, aqui vai nosso tradicional “resumão”: foi outra noite abençoada, que nos ajudará a refletir e promover ações concretas em prol de toda a Natureza.
Dedicamos a noite ao estudo do capítulo “Lei de Destruição”, da obra “Espiritismo e Ecologia”, de André Trigueiro (*), que trouxe importantes acréscimos em sua última edição.
A prece de abertura teve por base mais uma pérola de Joanna de Ângelis [1]:
“Todos os seres sencientes tem necessidade de amor, que constitui alimento irrecusável, e quem não o aceita pode se tornar a simbólica figueira que secou retratada na parábola da inutilidade, da falta de objetivo pelo existir”
Para começar os trabalhos da noite, uma premissa de equilíbrio entre as “asas” morais e intelectuais: as linhas necessitam convergir, e rápido, para o bem da evolução na Terra:
Mas antes de entrar no tema, esta foi a dica de documentário da noite, uma obra que, como tantas outras, indica que a ignorância é uma “bênção” que atualmente, dado o amplo acesso ao conhecimento, é algo injustificável:
H. O. P. E. – O que você come, importa.
Uma realização com o poder de girar a chave das mudanças em nós e no planeta, que revela os efeitos da típica dieta ocidental sobre a saúde, o meio ambiente e os animais, que pagam a conta salgada destes hábitos, com as próprias vidas. O filme conta com a participação de Jane Goodall, T. Colin Campbell, Caldwell B. Esselstyn, Vandana Shiva, Melanie Joy e vários outros especialistas no tema. Recomendamos muito! [2]
A turma participou muito, fazendo brilhar as luzes da doutrina espírita, no tema da lei de destruição. É incrível como o estudo contínuo das obras de Kardec, no caso “O Livro dos Espíritos”, observado o caráter progressista do espiritismo, nos desvela sábias revelações e conclusões que nos estimulam neste caminho do ativismo espírita em defesa de todo o mundo: humanos, não humanos e a Natureza.
Pergunta 728, da obra de Kardec. É lei da Natureza a destruição?
“Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.” [3]
Podemos ampliar a resposta, pois a finalidade é a evolução de todos os elementos do universo. Aí estão as estrelas supernovas que não nos deixam mentir. Elas têm ciclos de nascimento, crescimento, declínio e morte, para então, renascerem, fazendo evoluir bilhões de corpos celestes. Inclusive a nossa Terra.
Ainda em “O Livro dos Espíritos”, questão 729:
“Se a regeneração dos seres faz necessária a destruição, por que os cerca a Natureza de meios de preservação e conservação?”
“A fim de que a destruição não se dê antes do tempo. Toda destruição antecipada obsta ao desenvolvimento do princípio inteligente. Por isso foi que Deus fez que cada ser experimentasse a necessidade de viver e de se reproduzir.”
Neste ponto do estudo, percebemos a sutileza da abrangência da resposta, nas palavras: “obsta” e “princípio inteligente”.
A destruição antecipada, como a que estamos presenciando a décadas e levada adiante pela cobiça humana, obstaculiza o desenvolvimento.
De quem?
Do princípio inteligente. Se a espiritualidade superior quisesse dizer que a destruição atrapalha a evolução humana, diria “do espírito”, ou ainda, “dos seres na fase hominal”.
Mas não! A referência é super abrangente, diz respeito ao princípio inteligente, o que engloba todas as criaturas vivas do planeta. E isso aumenta mais ainda nossa responsabilidade nesta destruição cruel.
Temos pouco tempo para agir!
Mas vamos adiante… na questão 732 temos a pergunta:
“Será idêntica, em todos os mundos, a necessidade de destruição?
“Guarda proporções com o estado mais ou menos material dos mundos. Cessa, quando o físico e o moral se acham mais depurados. Muito diversas são as condições de existência nos mundos mais adiantados do que o vosso.” [3]
Lembrem-se de nosso gráfico inicial de hoje. Em mundos mais à frente da Terra, as linhas gráficas do desenvolvimento intelectual e moral caminham juntas!
Foto de Júpiter (telescópio James Webb).
O próprio Kardec traz informações obtidas junto à espiritualidade, sobre Júpiter [4]:
“Para os animais (Júpiter) o homem é uma divindade tutelar que jamais abusa do poder para os oprimir”
A turma trouxe diversas outras referências da obra espírita, sobre mundos mais avançados. Falamos até de Marte.
E tem mais, na questão 734:
“Em seu estado atual, tem o homem direito ilimitado de destruição sobre os animais? Tal direito se acha regulado pela necessidade, que ele tem, de prover ao seu sustento e à sua segurança. O abuso jamais constituiu direito.”
Se mudássemos a pergunta, tornando-a mais abrangente, a mesma resposta da espiritualidade valeria: “Em seu estado atual, tem o homem direito ilimitado de destruição sobre os animais, flora e recursos naturais?”
De novo, revejam nosso gráfico. A linha moral avança numa dada velocidade, mas a linha intelectual corre mais rápido, sempre em busca de novas soluções para velhas necessidades, porém, sem considerar a abrangência de virtudes como a fraternidade universal. Nesta altura do estudo, conversamos muito sobre novas fontes de proteína, que pudessem eliminar a dor do extermínio de bilhões de seres, bem como anular a pegada ambiental que tal exploração deixa.
Tem notícia boa. Sempre haverá!
Momento histórico: ONU declara que meio ambiente saudável é um direito humano
Todos no planeta têm direito a um meio ambiente saudável, passo importante para combater o alarmante declínio do mundo natural.
A ONU conclamou os Estados a intensificarem esforços para garantir que seu povo tenha acesso a um ” meio ambiente limpo, saudável e sustentável”.
A resolução não é juridicamente vinculativa para os 193 estados membros. Mas é uma esperança extra, um estímulo a que continuemos lutando pela vida, em todos os cantos do mundo. [5]
VOLTANDO AO LIVRO DO TRIGUEIRO…
“Espíritas e ecologistas entendem a necessidade da destruição para a manutenção do equilíbrio. Isso vale, por exemplo, para os incêndios de causa natural que renovam a vegetação de ecossistemas como o cerrado brasileiro, permitindo a limpeza do solo e a germinação de sementes. Ou ainda para a cadeia alimentar baseada na ação dos predadores que caçam as espécies mais vulneráveis, e assim sucessivamente, do mais forte para o mais fraco.”
Kardec menciona habilmente a palavra “horror” na obra básica espírita:
Na questão 733: “Entre os homens da Terra existirá sempre a necessidade da destruição? Essa necessidade se enfraquece no homem, à medida que o Espírito sobrepuja a matéria. Assim é que, como podeis observar, o horror à destruição cresce com o desenvolvimento intelectual e moral” [3]
E também em “A Gênese”:
“Todavia, à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade, diminui a necessidade de destruir, acaba mesmo por desaparecer, por se tornar odiosa essa necessidade. O homem ganha horror ao sangue.” [6]
É notável como cada vez mais crianças se manifestam horrorizadas em comer carne. Novos tempos, novas almas no mundo… Também é digno de registrar como o interesse de outras pessoas na alimentação vegetariana é grande. Numa celebração ou um simples almoço, por exemplo, todo mundo “avança” nos pratos “veggies”, mais coloridos, saborosos e ricos. Chamam a atenção mesmo!
E por falar em Lei de Destruição e sua subversão pelo ser humano… o que dizer sobre a caça?!? Temos uma questão que trata especialmente disto:
“Que se deve pensar da destruição, quando ultrapassa os limites que as necessidades e a segurança traçam? Da caça, por exemplo, quando não objetiva senão o prazer de destruir sem utilidade? Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais só destroem para satisfação de suas necessidades; enquanto o homem, dotado de livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Terá que prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois isso significa que cede aos maus instintos.” [3]
Imagem: veja.abril.com.br [7]
Emmanuel também dá seu “pitaco” na questão. E de forma soberba [8]:
Questão 62: O não matarás alcança o caçador que mata por divertimento e o carrasco que extermina por obrigação?
Resposta: À medida que evolverdes no sentimento evangélico, compreendereis que todos os matadores se encontram em oposição ao texto sagrado.
No grau dos vossos conhecimentos atuais, entendeis que somente os assassinos que matam por perversidade estão contra a Lei divina. Quando avançardes mais no caminho, aperfeiçoando o aparelho social, não tolerareis o carrasco, e, quando estiverdes mais espiritualizados, enxergando nos animais os irmãos inferiores de vossa vida, a classe dos caçadores não terá razão de ser.
André Trigueiro fala de sofisticadas engrenagens que sustentam e dão vida ao mundo: “É esse equilíbrio dinâmico — baseado em sofisticadas engrenagens que regem a vida e a morte — que assegura a perenidade dos ecossistemas e dos seres vivos que neles existem.”
Imagem: Louis Reed – Unsplash
Não dá para falar de engrenagens da vida, sem falar do Divino Escultor, por Emmanuel:
“Sim, Ele havia vencido todos os pavores das energias desencadeadas; com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o escopro da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a Sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola abençoada e grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandir-se em amor, claridade e justiça. Com os seus exércitos de trabalhadores devotados, estatuiu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples de matéria, cuja unidade substancial os espectroscópios terrenos puderam identificar por toda a parte no universo galáxico. Organizou o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres do porvir.” [9]
Ou seja… existe um Comando. Existem limites para o ímpeto humano em degradar e destruir. E este Comando Divino conta com nossa colaboração.
Trigueiro nos fala de dois tipos de destruição:
“Um, de origem natural, conspira em favor da manutenção da vida; o outro, de origem antrópica, determina impactos negativos sobre os ciclos da natureza, precipitando cenários de desconforto ambiental crescente” E acrescenta novidades em sua última edição: referências às tragédias ambientais de Mariana e Brumadinho, ambas em Minas Gerais.
Rompimento da barragem de Mariana/MG (2015) – o maior desastre do gênero do mundo. Destruiu a bacia do Rio Doce inteira.
Brumadinho (2019) – Cerca de 300 mortos, até hoje se buscam os últimos corpos.
Investigações revelam a irresponsabilidade da gestão de riscos e prevenção de desastres, pelas empresas responsáveis.
Imagem: Mariana/MG. Agência Brasil EBC Notícias.
Imagem de Brumadinho/MG (stoodi.com.br)
“Há uma questão moral embutida nessa situação”. Trigueiro
Não podemos negar esta dimensão moral e nem aquelas outras de caráter ético, científico e emocional. Combater a indiferença em relação aos maus tratos à natureza, que repercutem em cheio na humanidade, é urgente.
O grupo trouxe uma história linda sobre o importar-se com o próximo, neste caso, uma irmã do reino vegetal: um vizinho bate à porta de nossa amiga, para dizer que existe na casa dela uma planta que necessita muito de sol, caso contrário, morrerá. Ele havia “sonhado” e percebido esta carência na planta. E se importou. E agiu pelo bem dela. Não poderíamos ter melhor história para fechar a noite de partilhas e estudos sobre o Meio Ambiente e a Vida!
Tomara que despertemos. E rápido!
Um grande abraço e até a próxima!
Bibliografia e demais fontes citadas:
(*) TRIGUEIRO, André. Espiritismo e Ecologia. Capítulo “Lei de destruição”
[1] FRANCO, D. P.; JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). “Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda”. Cap. 16.
[2] Documentário sugerido, “What you eat matters”: https://www.youtube.com/watch?v=pDg7tlEJD64
[3] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB (site). Capítulo VI. Lei de Destruição.
[4] KARDEC, A. Revista Espírita de março de 1858. Capítulo “Júpiter e alguns outros mundos”, pp. 118.
[6] KARDEC, A. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB (site). Capítulo 3. Item 24, pp. 74
[7] Veja online: https://veja.abril.com.br/mundo/cacadora-gera-revolta-ao-postar-foto-ao-lado-de-girafa-negra-morta/
[8] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). O Consolador. 29 ed. 5 imp. Brasília: FEB, 2017. 305 p. Capítulo 1 “Ciência”, item 1.1. “Ciências fundamentais”, subitem 1.1.5. “Sociologia”, questão 62, pp. 47.
[9] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). A caminho da luz. O Divino Escultor.